Parte Seis - A Coisa certa.

A segunda-feira começou fria, a ponto das ruas ganharem uma generosa camada de neve, o que enfeitou toda a cidade, inclusive a floresta que cercava toda a nossa casa de campo. Nunca achei que veria Pedro tão feliz em meio a um frio tão intenso e que eu mesma, não era capaz de aguentar. Mas me lembrei que também havia sido comigo da mesma maneira. Fiquei extasiada quando vi pela primeira vez a neve caindo do céu e cobrindo o gramado do quintal da nossa antiga casa, ela era fria, e derretia quando se colocava um punhado na mão devido a nossa quentura. Não tinha gosto, o que fez a minha mãe gritar ao ver Beatrice me incentivando a colocar a neve na língua, mais eu era criança, eu já fui o Pedro. Tive que tirar do meu armário uma blusa grossa de frio, além de usar por debaixo dela a camisa de Michael, ele não saberia que estava usando, apenas saberia se sentisse seu próprio cheiro em mim.

Ajeitava o cachecol em torno do pescoço e prendia meus cabelos num rabo de cavalo rápido. Beatrice me esperava na varanda de casa batendo os pés de tanto frio, com seu nariz avermelhado pela temperatura, quis rir mais pela sua careta, acabaria ouvindo seus resmungos até chegarmos no estacionamento do colégio. Além do mais, as minhas bochechas e meus lábios estavam vermelhos feito um morango. Pedro viria conosco pela primeira vez por motivos óbvios, papai ficaria em casa enfiado na garagem cheia de instrumentos do seu serviço enquanto nós, teríamos que nos tornar a dona da casa por pelo menos uma semana inteira.

Durante boa parte do trajeto tentei me desligar do meu irmão falando feito uma tralha, e da minha irmã com seu maldito mal gosto musical. Tinha vontade de desligar os dois, seria mais fácil se nós tivéssemos um botão bem pequeno em que pudéssemos apertá-lo e simplesmente nos dar um "offilne". Foquei em me lembrar de Michael, e pensar como seria quando ele me visse agora de manhã após o fim de semana intenso que tivemos juntos. Se teria sido bom pra ele, e se iríamos repetir a dose daqueles beijos que eu já sentia falta. Hoje logo quando acordei era como se a sua boca ainda estivesse sobre a minha, chegava a formigar, era delicioso, era quase uma abstinência que me permitia sentir e pedir por mais. Só que deveria me conter e esperar que ele chegasse em mim ao invés de correr até seus pés. Sabia exatamente que ele viria conversar comigo, mas não sabia se ele fingiria que nada aconteceu estes dois dias, ou me abraçaria em público, mais ainda assim, como amigos. Suspirei fundo.

Meus olhos se fecharam por alguns minutos. Minutos o bastante para perceber o solavanco do carro e ele logo parar, já estávamos no colégio. Meu coração estava na boca e até meus dedos suavam de tanto nervosismo, até que tomei coragem e ajeitei a mochila nas costas e então desci. Beatrice levaria Pedro no colégio e voltaria o mais rápido possível, o que mudou totalmente nosso trajeto, mais seria a minha salvação.  Fui cortando entre as diversas pessoas das quais trombei. Até que Patrícia me esperava parada próxima a porta do diretor. Ela sabia.

Não só pelo seu olhar penetrante e direcionado para mim, mas pela maneira com que veio rápido na minha direção e foi me levando direto para as escadarias que dava para a nossa sala. Não houve uma palavra que fosse, até pararmos no meio do caminho, e se não fosse o extintor, nos separando, tinha certeza, ela me sacudiria ali mesmo.

- Estou sabendo de você e do Michael. - Me encolhi toda no canto até me sentir reconfortada pelo frio da parede. Patrícia deve ter percebido isso, tanto que eu vi seu rosto ficar vermelho feito um morango. - Me desculpa chegar assim em você. É que ele é quase como um irmão e veio me contar que vocês estiveram juntos no final de semana.

- Na verdade foi apenas na sexta-feira e no domingo, no almoço da família dele. - Corrigi, meio suspeita, mais o fiz.

- Estou tão feliz por vocês dois! Vocês são tão diferentes um do outro. - E dava para notar a enorme diferença entre eu e ele em apenas pouquíssimo tempo na escola. Sorri meio sem jeito, até ela envolver seu braço no meu e irmos entrando na nossa sala. Teríamos química hoje, a professora teve um pequeno afastamento por conta de problemas em casa e estava de volta, o que era bom. Me sentei no meu lugar rotineiro, com Patrícia ao meu lado mexendo em seu caderno e fuçando sempre nas suas canetas de cores diversas. Cada uma delas tinha um cheiro diferente, e ela sempre que podia, estava me rabiscando com alguma delas, ou até rabiscando o meu caderno.

Ficamos juntas boa parte da aula de química e até na de Física, sempre ao meu lado me explicando ou até pedindo ajuda para mim, o que era bom. As pessoas ao nosso redor já não me olhavam como antes, com aquele ar de gozação ou até mesmo me rotulando a garota mais estúpida do mundo por ficar sozinha. Não era uma opção, era uma condição da qual eu era obrigada a viver.

- Com licença professor, preciso da aluna Melanie Silver. - Ergui a minha cabeça por um momento e fui juntando meu material devagar, até me levantei dali com a mochila sobre um dos ombros, e diante da sala do diretor no andar de cima, encontrei Beatrice a minha irmã em prantos junto do meu pai. Seu olhar era decadente, e me fez pensar na mamãe imediatamente. Eles a encontraram. Eu juro por Deus que a queria viva, queria apenas que ela saísse da sala do diretor como se nada tivesse acontecido, e me abraçasse. Mas a notícia veio totalmente diferente, e não foi dada nem mesmo pelo meu pai e nem pela minha irmã, que mal tinha forças para levantar do chão frio da escola.

- Seu pai não conseguiria dar essa notícia, por isso os policiais o acompanharam até aqui para dar a notícia diretamente. Sei o quanto é ruim perder um ente querido, ainda mais vocês que são novos aqui e mal tiveram tempo de se adaptar. Minhas condolências. - Disse o diretor me olhando de vez em quando. Era constrangedor e eu me sentia mal por ele. Quando um dos policiais que era bem jovem, possivelmente adentrado a pouco tempo na corporação tocou meu ombro e me fez olhá-lo tão fiel.

- Nos encontramos o corpo da sua mãe hoje, logo cedo no meio da floresta em torno da casa de vocês. Foram encontradas diversas marcas em seu corpo, inclusive a falta do braço do qual foi deixado na casa de vocês há algumas semanas.

- Posso ver ela? - Foi a única coisa que eu consegui dizer por um momento.

- Infelizmente não, Melanie. Sei o quanto é ruim passar por isso, mas seu pai já fez a identificação. O corpo foi encaminhado para o IML, e verificado. Eles vão fazer de tudo pra descobrir o que realmente aconteceu com ela, assim como eu mesmo, estou fazendo uma promessa pra você. Nós vamos pegar quem quer que tenha feito isso a Sara. - O homem parecia com boas intenções. Eu queria sorrir mais não o fiz, apenas abaixei a minha cabeça e me mantive firme. Nada fazia sentido, nem mesmo a morte da minha própria mãe. Estava doendo. Era uma dor aguda e ao mesmo tempo, uma cabeça e o coração cheio de expectativas, expectativas das quais, não deveria existir.

* * *

Depois daquela manhã, papai nos levou de volta para casa por ver a condição de Beatrice e a minha também. Embora eu estivesse quieta, a minha mente não estava. Me sentia péssima e ao mesmo tempo, entorpecida, desejando explicações e até mesmo, querendo saber ou ter o poder de voltar no tempo, e ter feito mamãe ter ficado aonde estávamos. Ela estaria viva e nos todos estaríamos juntos, como uma família normal, exatamente como éramos. Suspirei assim que me deitei na cama com o uniforme e tudo. Beatrice chegou a entrar comigo, mas eu ouvia, mesmo que pela grossa camada de cimento que nos separava, seu choro e seu soluço. Ela estava sofrendo mais do que o próprio papai, que viveu mais tempo com ela do que os filhos. Sua maior preocupação agora era acompanhar cada passo dos policiais, e mais uma vez nós seriamos esquecidos na gaveta.

Toda família geralmente recebe apoio moral dos vizinhos, amigos e familiares. Mas mamãe havia perdido a mãe a muito tempo, e o pai nem mesmo se preocupava com os filhos. Os irmãos dela mesmo nos ligaram boa parte da tarde nos prometendo visitas. Coisa que não aconteceria. Nem mesmo velório a Sara teria, já que seu corpo numa hora destas deveria estar sendo analisado por diversas pessoas em busca de uma resposta para o que realmente aconteceu, e depois seria guardado em um freezer enorme, com direito a uma etiqueta no dedão do pé.

De qualquer forma, eu devo ter apagado. Acordei quando tudo estava escuro e eu estava coberta pelo meu edredom. A casa estava num silêncio estranho, mais delicioso e perigoso. Pensei duas vezes em ficar ali deitada, mas peguei meu celular para poder ver que horas eram e marcava 22:30 da noite. Era um horário considerado cedo para mim tentar voltar a dormir, o que com certeza não aconteceria. Fui me levantando aos poucos, vesti a minha blusa de frio e meu chinelo e fui saindo do quarto. Toda as luzes de casa estavam apagadas, as portas abertas, mas não encontrei nem mesmo Beatrice, Pedro ou o papai. As roupas da Bea estavam exatamente como ela as deixava quando saia, e o papai era complicado saber quando estava em casa ou não. Em meio ao silêncio ouvi o ranger da escada e alguns passos pelo corredor, e se não fosse a janela no fim dele, estaria tudo completamente escuro. Quem quer que estivesse ali comigo não era o papai, nem meus dois irmãos. Fui encostando a porta devagar até tê-la fechada, mas ainda me sentia desprotegida e estúpida em não ter como ligar para o papai ou até para a polícia. Soube no mesmo instante que quem estivesse ali na casa foi quem matou a minha mãe. Eu poderia ser corajosa o bastante para sair daquele quarto e desafiá-lo e de presente, ser morta. Fui me afastando da porta até perceber que pararam de fronte a ela.

- Deus..- Tentei sussurrar o mais baixo possível, ainda assim ouviram, e mexiam descontroladamente na maçaneta da porta e empurrava-a desejando entrar. Além dos resmungos estranhos e a respiração desregulada, não ouvi nenhum sinal de que a pessoa estivesse com outras pessoas, se ela estivesse sozinha seria mil vezes mais fácil, ou não. Me lembrei do bastão de beisebol que o papai havia me dado de presente antes de virmos pra cá, mesmo sem a intenção daquilo me proteger, ele me deu mais como um presente cheio de boas intenções do que voltado para a morte de alguém ou o ferimento de outros. Mexi devagar na bagunça que estava debaixo da minha cama até encontrá-lo. Papai havia me ensinado como segurá-lo, e diante de tantas vezes que o vi segurando, ele me mataria se me visse sendo tão boba e ingênua como naquela hora. Ajeitei bem entre meus dedos, e pressionei até ver os nós dos meus dedos ficarem brancos e caminhando devagar, fui de encontro a porta que tremia a cada balançada ou jogada de corpo que recebia. As investidas eram boas o bastante para derrubá-la, mas por incrível que pareça, só queriam me assustar ou algo do tipo, afinal, não entraram.

- Quem quer que esteja ai, se prepara! - Gritei, querendo rir de mim mesma ao tentar interpretar um personagem qualquer, corajoso, cheio de si e de pose. A minha vida estava uma merda, o que mais me faltava? Ficar sem um braço? Uma perna? Quando menos esperava a porta se abriu e as minhas pernas bambearam no mesmo segundo, já não tinha bastão perto de mim. Tentei focar as minhas forças nos braços e nos quadris para me forçar para trás até que em meio a luz da minha janela vi do que se tratava. Não era exatamente uma pessoa que se encontrava parada na minha frente, era uma criatura enorme e esverdeada. Sua pele brilhava e visivelmente escorregadia, seus olhos eram negros com dois pontos brancos, que de fato foi o que mais me assustou. Tinha mais ou menos 2 metros de altura, além de ser curvado, de braços longos e pernas cumpridas e peludas. Suas garras eram enormes, além de duas presas visíveis pela boca molhada e suja de sangue. Ele gritou, e eu gritei mais ainda ao rolar para um lado do quarto, ficando perto o bastante do meu bastão, o ajeitei na mão e fui me levantando. Poderia correr, mas as minhas pernas ainda estavam fracas o bastante para eu correr, poderia cair e a situação ficaria mais feia do que realmente estava.

Eu poderia dizer naquele momento que não sentia medo algum daquilo, até sentir um cheiro doce por de trás de mim e perceber que ele não estava sozinho. Estava na companhia de no mínimo quatro pessoas. Pareciam mortas, mas seus olhos estavam vivos demais para considerá-los zumbis. Se não fosse as olheiras negras em torno dos olhos avermelhados, e as presas salientes. Suas roupas estavam sujas, e ganhava um contraste até que bonito diante da pele branca que eles tinham. Não gritavam ou faziam qualquer tipo de ruído, pareciam com fome, percebi isso não só pela forma física, mas não havia nenhum outro motivo para entrarem desesperados no meu quarto e tentarem me atacar. Ok, eu nunca havia matado ou batido em algum na minha vida. Afinal, tenho somente dezesseis anos, como seria capaz disso? Mais nem percebi quando meus braços e mãos seguravam forte o bastão de beisebol, e acertou um dos "fominhas", que veio direto para o meu pescoço. Com isso não pensei duas vezes em tentar fazer o mesmo com os outros, mas a minha atual preocupação era o líder deles. Que fuçava em todas as minhas coisas, gavetas, armários, meus quadros foram jogados, fotografias, a cama havia sido quebrada pela maneira grotesca em que ele pisoteou sobre uma delas ao dar a volta no quarto. Aquilo tudo não passava de uma distração, eu sabia, mas o que eu poderia fazer?

Meu rosto tinha algumas gotas de sangue que acabaram me atingindo. Mais boa parte dos "sem vida" estavam no chão mais ainda vivos, percebi pela forma com que tentavam se erguer e me pegar, mas a cada movimento, meu bastão acertava um deles.

- O que você quer? - Gritei, para o líder, que pareceu nenhum pouco preocupado com a minha atitude desesperada. Mas não perdeu tempo em me jogar em uma das paredes assim que tomei impulso e corri até ele. Que mexia em uma caixa pequena de madeira e com cadeado que mamãe havia me dado logo que nos mudamos para cá. Me lembrei de cada uma das palavras dela enquanto escorregava até parar sentada no chão. Queria chorar e gritar, mais o impacto foi forte o bastante para me deixar fraca. Meus braços e pernas doíam, a minha roupa e pele estava suja e sensível, o cheiro não era bom, era doce, era sangue, nunca havia sentido tanto nojo de mim mesma.

- É tudo o que eu preciso. - Foi uma das últimas coisas que eu escutei antes de desmaiar.

* * *

A minha cabeça estava rodando. Meu corpo estava todo muído de tão dolorido e a única coisa que eu precisava era dormir. Mas aonde eu iria dormir? Assim que acordei, procurei em todo canto o meu celular e até mesmo o telefone de casa para poder discar para o meu pai ou até na polícia. Mais não encontrei absolutamente nada que pudesse me ajudar naquele momento de estranho.

Posso dizer que a minha vida nunca poderia ser considerada normal. Eu mesma nunca fui normal e ainda assim achei que nunca veria o que meus olhos foram capazes de enxergar. Acho que se contasse para alguém, ninguém acreditaria em nenhuma palavra que eu falasse. Achariam no mínimo que eu estava enlouquecendo, e o estado que se encontrava o meu quarto e boa parte dos móveis da sala, considerariam a hipótese de ter sido um ladrão e nada demais. Não um monstro sugador de sangue. Nunca havia parado para ler histórias de vampiros, porque nunca me interessei pela história, principalmente pelo fato de saber que nunca existiria aquelas criaturas noturnas. Encontrei o meu bastão por debaixo dos destroços da minha cama e cambaleando fui saindo do quarto. Tinha ganhado um galo bem no meio da cabeça e manchas vermelhas de sangue no meu rosto, eu poderia ser considerada uma assassina se caso as minhas vítimas não tivessem se levantado como se nada tivesse acontecido. Suspirei, e fui descendo as escadas para descer de volta a sala. A porta de casa estava escancarada e todas as janelas deixavam o ar da floresta entrar em todos os cômodos. Aquele cheiro de podre ainda recendia em tudo, e cada vez que me lembrava da pele escorregadia daquele "monstro", meu estômago se revirava como uma máquina de lavar roupa.

Em pouco tempo eu estava na varanda de casa. Engraçado foi perceber que a luz de toda a casa havia sido cortada graças aos invasores. Eram inteligentes e astutos o bastante para terem o momento certo para entrarem em casa. Tentei novamente ligar para o papai e nada de nenhuma das minhas quinze ligações serem atendidas. Beatrice muito menos, e o pior, nem tinha como eu sair andando dali sem rumo e até chegar na cidade demoraria muito. O único número que eu tinha perto o bastante de mim era o de Michael, e aquilo me fez lembrar que não era certo incluir pessoas em determinados problemas. Mais ele era o único em vista que poderia me ajudar. Disquei mesmo assim. Tum...tum...tum..
- Alô! - Sua voz estava meio cansada, e surpresa. Quem não se surpreenderia ao receber uma ligação minha?
- Oi, é a Mel. Do colégio. Tem como me fazer um favor meio desesperado? - Minhas palavras foram saindo de uma única vez, por sorte ele estava se acostumando com o meu jeito, o que era bom.
- Você esta em casa? Quer que eu vá ai? - Eu balancei a cabeça positivo, mas não consegui dizer nada, apenas comecei a chorar. E então ele desligou. Fiquei sentada um bom tempo na escada da varanda de casa até ouvir de longe o ronco da sua Harley, e aquilo fez meu coração palpitar cada minuto mais rápido. Não só de alegria por poder ver Michael e estar com ele, mas porque ele iria me ajudar. As pessoas tinham o costume de me ajudar apenas por dó ou por verem que não tinham outro jeito. Michael estacionou a moto de qualquer forma no gramado de casa e veio na minha direção. Estava com uma jaqueta de couro marrom escuro, calça jeans como sempre larga em seu corpo e uma camisa cinza de gola polo por debaixo. Não esperei e nem imaginava que ele fosse aceitar um abraço meu naquele estado, mas apenas me levantei e o envolvi nos meus braços. Por incrível que pareça, Michael nem se importou, apenas me embalou em seus braços como se eu fosse um bebê. Seu cheiro me faria dormir como todas as outras noites mas eu não queria dormir. Queria apenas ficar abraçada ali com ele sem pensar nas horas e minutos correndo enquanto estivéssemos ali.
- Eu estou aqui pequena. - Seus dedos se enrolaram nos meus cabelos e afagavam o meu couro cabelo, meus olhos se fecharam em meio as lágrimas que teimavam escorrer. Até que ele se afastou um pouco de mim e pelo seus olhos eu pude notar como ele estava espantado em me encontrar naquele estado. Com a ponta do polegar ele tentou limpar algumas gotas de sangue que eu tinha na bochecha.
- Preciso encontrar o meu pai e a minha irmã. Invadiram a casa, me atacaram...mas...mais não eram pessoas normais, elas eram...estranhas. - Fui limpando meus olhos e tentando me recompor. Michael me olhou ainda mais espantado ao ouvir as minhas descrições, e inclusive, olhou em torno da gente conforme ia me arrastando para dentro da casa. Não era por conta do frio que cercava a gente, era por qualquer outro motivo menos isso.
- Olha, senta aqui. Deixa eu te explicar uma coisa, só não quero que fique pensando muito nisso depois, ok? - Aos poucos me acomodei no sofá da casa, a única coisa que restava no lugar. Afastou alguns de cabelo do meu rosto e sorriu.
- A cidade é cercada por muitos mitos e boa parte deles são verdades. Foi por esse motivo que se afastaram de você quando veio com aquela pergunta na primeira vez em que esteve no colégio. Eu não vou poder tirar todas as suas dúvidas, porque também tenho as minhas. Mas o que aconteceu aqui, e o que você viu aqui, esquece.
- Mas como vou esquecer o que eu vi? - Disse, ainda mais boba do que era.
- Esquecendo. Eles levaram alguma coisa daqui?
- Levaram uma caixinha de madeira que eu ganhei da minha mãe quando chegamos aqui. Levaram à toa, não tenho a chave. - Michael demorou um pouco pensando, mas não respondeu nada do que eu disse. Apenas suspirou fundo e me puxou para os seus braços.
- Enquanto seu pai e sua irmã não chegarem, eu não vou embora. Por hora, nada de polícia ok? - Assenti. Confusa. Por um instante eu pude ver os olhos confusos de Michael também pela situação. Mas no fundo, eu tinha certeza, ele sabia do que se tratava e do que houve aqui dentro de casa.

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